quarta-feira, 3 de setembro de 2008

A cena de leitura I

Leitores incomuns, de Milton Hatoum.
Disponível em: ENTRE LIVROS

Há tanta diferença entre a “atitude” de quem lê e a de quem escreve? Um dos problemas cruciais do leitor e do escritor é a falta de tempo, decorrente da pressão do dia-a-dia.
Os escritores que vivem de sua pena não podem escolher uma hora do dia ou da noite para trabalhar. Mesmo os que tiveram ou têm a sorte de não depender do trabalho da escrita, revelam-se compulsivos, ávidos para narrar. O que deve ser escrito é inadiável. Deixar para escrever mais tarde, amanhã ou outro dia qualquer só atrapalha o andamento da narrativa. Adiar um trabalho pode ser um alívio para um burocrata, não para um escritor. Ainda assim, há momentos de pausa e reflexão, de pesquisa e anotações, e, às vezes, de interrupções forçadas, um verdadeiro castigo para quem escreve. E há também pausas para leitura: a urgência de escrever não é menor nem menos intensa do que a urgência de ler.
“Escrevo porque leio”, afirmam alguns escritores. Mas um leitor poderia dizer: não escrevo nada, mas é como se a leitura fosse um modo de escrever, de imaginar situações, diálogos e cenas que a memória registra no ato da leitura.
O pior leitor é o passivo, resignado, que aceita tudo e lê o livro como uma receita ou bula para o bem viver. Este é o não-leitor. Porque o texto de auto-ajuda é um compêndio de trivialidades, palavras que não questionam, não intrigam nem fazem refletir sobre o mundo e sobre nós mesmos.

5 comentários:

  1. Eu, particularmente, adoro ler. Todo o tempo livre que tenho leio alguma coisa. Odeio a sensação de estar parado e perdendo tempo. Não sei se o faço por costume ou se é o meu jeito, mas n gosto de sentir que estou disperdiçando um momento precioso no qual poderia estar aprendendo algo. Nessa febre de aprender, acabo lendo de tudo. Não tenho nada contra os livros de auto-ajuda, pois muito deles contam as experiências vividas por alguém. Pq não absorver algo dos outros? O trivial nem sempre está claro para todos, e o trivial pra vc, nem sempre é o trivial para o outro. Acho que depende da experiência de cada um né? O que eu não concordo, é ler algo sem ter uma visão crítica. Ler por ler, pra mim, é a mesma coisa que nada. Nisso temos que concordar, pois esse tipo de pessoa é um não-leitor.

    Já fazia um tempinho que eu a visitava =)

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  2. Gostei muito do teu texto e agradeço a visita ao teofilina bermácia. É verídico essa urgência em escrever, tal como uma obsessão controlada a duras penas (se é que se controla obsessões...rsrs). No entanto, a urgência em ler, para mim, às vezes pode facilmente ser deslocada para o setor da preguiça ou daquela sensação estranha de fome de não se sabe o quê.

    Beijão!

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  3. Escritores magistrais podemos encontrá-los no limbo das letras: ah, obscuras gavetas de escrivaninhas...outros são como criadores de porcos: cultivam e cultuam porqueiras e, como os tais criadores, quando os ventos sopram a favor, nadam nas cifras. O que dizer de autores de novelas?
    Mas reconheço o meu lugar e minha literatura se resume a ler blogs e arriscar comentários perdidos aqui e ali. Adeus Nerudas, good by Drumonds...prefiro o gibi do Peninha. E, claro, gosto se discute sim: eu também não como meu silêncio, oras!

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  4. Caro Sereno,

    É exatamente com esse sentido que coloco postagens de opiniões diferentes.
    Mas tenho que discordar de seu repúdio a Neruda e Drummond. Questiono se já os leu ?
    Não há como negar o talento desses poetas.
    Quanto a escritores... muita gente não tem noção mesmo ao leitor e à literarura. Ainda bem que esses permanecem anônimos dentro e fora do espaço virtual.

    Saudações
    Beatriz

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  5. É, Beatriz, cê tá com a razão: não é por capricho que Neruda e Drummond são imortais da amada 'ars poética'. Perdoa então minha leviandade, pois não li Neruda e do Drummond só conheço uns poucos poemas...no mais, gosto do seu blog... por causa do seu gosto (literário).

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