segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Acordo Ortográfico - Informações

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinará nesta segunda-feira, no Rio de Janeiro, em cerimônia na Academia Brasileira de Letras, decreto que estabelece o cronograma para a vigência do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.O acordo ortográfico, que unifica a forma como é escrito o português nos países que falam a língua, aprovado pelo Parlamento de Portugal, vai modificar 0,43% do dicionário brasileiro.

Confira as alterações que o novo acordo trará para o português escrito no Brasil:

Alfabeto
Passará a ter 26 letras, ao incorporar "k", "w" e "y".

Trema
Deixará de existir, só permanecerá em nomes próprios, como Hübner ou Müller.

Acento agudo
Desaparecerá nos ditongos abertos "ei" e "oi" em palavras como "idéia" e jibóia" e nas palavras paroxítonas com "i" e "u" tônicos, quando precedidos de ditongo em palavras como "feiúra"

Acento circunflexo
Desaparecerá em palavras com duplo "o", como vôo e enjôo e na conjugação verbal com duplo "e", como vêem e lêem.

Acento diferencial
Não se usará mais acento para diferenciar "pára" (verbo) de "para" (preposição) ou "pêlo" (substantivo) de "pélo" (verbo) e "pelo" (preposição mais artigo).

Hífen
Desaparecerá em palavras em que o segundo elemento comece com "r" e "s", como "anti-rábico" e "anti-semita". A grafia passará a ser "antirrábico" e "antissemita". O hífen será mantido quando o prefixo terminar em "r", como em "inter-racial".

O acordo entrará em vigor a partir de janeiro de 2009, mas as duas normas ortográficas (a atual e a prevista no acordo) poderão ser usadas e aceitas como corretas nos exames escolares, vestibulares, concursos públicos e demais meios escritos até dezembro de 2012.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

A poesia que liberta

POESIA CHEGA ÀS PRISÕES
Notícia disponível em TSF, de Portugal



Filipe Gomes quer incentivar o gosto pela leitura aos reclusos de várias prisões portuguesas através da poesia com o objetivo de ajudar a integração social de quem está preso.
Durante a sua visita ao Estabelecimento Prisional de Braga, depois de perguntar se algum dos presos gostava de ler e, em particular, se gostavam de poesia, Filipe Gomes perguntou aos reclusos se conheciam os versos de "Ser Poeta", de Florbela Espanca.
Com este tipo de iniciativas, se pretende trabalhar a liberdade, a família, a justiça e o amor com momentos em que as palavras se fazem sentir no interior dos reclusos.
"Aquilo que me preocupa é motivar para a leitura da poesia, mas tentar mostrar alguns poemas que podem ser interpretados de uma maneira positiva e que, mesmo que não sejam entendidos naquele momento, se calhar podem ficar na memória", explicou.
Além de Espanca, foram declamadas poesias de Eugénio de Andrade, Charles Baudelaire e Mário Cesariny.
"Reavivei a ideia de que realmente a poesia é um bom fruto de acolhimento», afirmou um dos presos"
SER POETA (FLORBELA ESPANCA)
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Admirável blogueira

YOANÍ SÁNCHEZ
Grave esse nome!

O que ela fez?

Em um ano, Yoani Sánchez se tornou a blogueira mais popular de Cuba. A crise no poder detonada pelo problema de saúde de Fidel Castro fez com que a cubana de 32 anos, formada em lingüística criasse na internet um grito de resistência e de mudanças na ilha comunista. Em fevereiro, o blog "Generación Y" contabilizou mais de 1,2 milhão de visitas.

Com essa façanha, Yoaní ganhou o Prêmio Ortega y Gasset de Jornalismo (de El País) que completa 25 anos, numa comemoração em que se distingüiu a valentia do jornalismo de investigação, a luta em favor da liberdade de expressão e a denúncia aos horrores da guerra.

Para ler entrevista : VISÃO GLOBAL

terça-feira, 23 de setembro de 2008

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Conflito da escrita: CRIAR

- Tudo bem?
- Não, somente oitenta e dois por cento.
- Ora, mas porque essa raiva?
- Porque você é tão sem graça que não cria nada novo?
- Ah, porque antes do hoje já existiu tudo e não há.
- Não há novo?
-
Não, não existe como apagar. O ontem é conhecido e já não sou inerte a tudo.
- Mas então chame alguém que não conheça o ontem para escrever.
- Isso não é possível.
- Porque para escrever o hoje é necessário conhecer o ontem.


PROVOCAÇÕES

( Como criar algo novo quando tudo parece já ter sido criado? Como melhorar a escrita? Se opiniões diversas se formam a respeito... ora dizendo talendo, ora dizendo preparo, ora dizendo vontade individual)

BEATRIZ VIEIRA

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Escreva uma carta

Uso de telefones e Internet inibe hábito pela escrita de carta
Por André Brandão - Jornal da Angola
As novas tecnologias de informação e comunicação, como telemóveis e uso da Internet, inibem o hábito pela escrita da carta e telegramas. A opinião foi avançada, quinta-feira última, na cidade de Ndalatando, província do Kwanza-Norte, pelo inspector postal dos correios de Angola, Manuel Hebo Quibambo.
De acordo com o responsável, as pessoas perderam o costume de escrever cartas e telegramas em relação ao passado devido aos avanços da tecnologia de comunicação, “coisa que não pode acontecer numa sociedade como a nossa”. Manuel Hebo Quibambo precisou que desde o princípio do ano, a direcção dos Correios de Angola do Kwanza-Norte recebeu cerca de 427 cartas e enviou 121 a diferentes países do mundo, principalmente Portugal, Brasil e Cuba.

Por isso, o blog CARTAS AO AVESSO sugere a você caro amigo a escrever uma cartinha de próprio punho para um(a) amigo(a), seu amor, um parente. Coloque fotografias, colagens, cores diferentes. É tão bom receber cartas!

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Sonho de hospedagem

Que acha de passar umas férias em Nova York rodeada de livros?

Apresento a vocês LIVRARY HOTEL

Cada andar tem um tema dos quartos com os livros disponíveis:

3º Ciências Sociais
4º Idiomas
5º Matemática e Ciência
6º Tecnologia
7º Artes
8º Literatura
9º História
10º Conhecimentos Gerais
11º Filosofia
12º Religião

Por exemplo, no 8º andar (Literatura) o hóspede pode escolher entre os quartos Erótico, Os Clássicos, Poesia, Drama, Contos de Fadas ou Mistérios.

OBS: Vi em Horas Serenas e achei super interessante.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Quer comprar meu livro ?

Agora, chegou a hora de vender meu peixe...

Lançado em 2006 pela Academia Criciumense de Letras, o livro "Ao som do teu nome" é minha primeira obra sozinha.Com 86 poemas dividido em 7 capítulos, o livro representa meus primeiros passos na escrita.

Caso tenha interesse, estou a queimar estoques:

Valor R$10,00
Envio por minha conta (encomenda simples)
Para pedidos:
beatrizlv@terra.com.br

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Mario de Andrade no LIVRO CLIP

Quer mais? CLIQUE AQUI

Sou escritor, mas sou normal!

Para descontrair um pouco:
Curiosidades sobre alguns escritores, disponível em AMIGOS DO LIVRO

Aluísio de Azevedo tinha o hábito de, antes de escrever seus romances, desenhar e pintar, sobre papelão, as personagens principais mantendo-as em sua mesa de trabalho, enquanto escrevia.

Aos dezessete anos, Carlos Drummond de Andrade foi expulso do Colégio Anchieta, em Nova Friburgo (RJ), depois de um desentendimento com o professor de português. Imitava com perfeição a assinatura dos outros. Falsificou a do chefe durante anos para lhe poupar trabalho. Ninguém notou. Tinha a mania de picotar papel e tecidos. "Se não fizer isso, saio matando gente pela rua". Estraçalhou uma camisa nova em folha do neto. "Experimentei, ficou apertada, achei que tinha comprado o número errado. Mas não se impressione, amanhã lhe dou outra igualzinha."

Numa das viagens a Portugal, Cecília Meireles marcou um encontro com o poeta Fernando Pessoa no café A Brasileira, em Lisboa. Sentou-se ao meio-dia e esperou em vão até as duas horas da tarde. Decepcionada, voltou para o hotel, onde recebeu um livro autografado pelo autor lusitano. Junto com o exemplar, a explicação para o "furo": Fernando Pessoa tinha lido seu horóspoco pela manhã e concluído que não era um bom dia para o encontro.

Euclides da Cunha, Superintendente de Obras Públicas de São Paulo, foi engenheiro responsável pela construção de uma ponte em São José do Rio Pardo, SP. A obra demorou três anos para ficar pronta e, alguns meses depois de inaugurada, a ponte simplesmente ruiu. Ele não se deu por vencido e a reconstruiu. Mas, por via das dúvidas, abandonou a carreira de engenheiro.

Gilberto Freyre nunca manuseou aparelhos eletrônicos. Não sabia ligar sequer uma televisão. Todas as obras foram escritas a bico-de-pena, como o mais extenso de seus livros, Ordem e Progresso, de 703 páginas.

Graciliano Ramos era ateu convicto, mas tinha uma Bíblia na cabeceira só para apreciar os ensinamentos e os elementos de retórica.

Guimarães Rosa, médico recém-formado, trabalhou em lugarejos que não constavam no mapa. Cavalgava a noite inteira para atender a pacientes que viviam em longínquas fazendas. As consultas eram pagas com bolo, pudim, galinha e ovos. Sentia-se culpado quando os pacientes morriam. Acabou abandonando a profissão. "Não tinha vocação. Quase desmaiava ao ver sangue", conta Agnes, a filha mais nova.

Jorge Amado para autorizar a adaptação de Gabriela para a tevê, impôs que o papel principal fosse dado a Sônia Braga. "Por quê?", perguntavam os jornalistas, Jorge respondeu: "O motivo é simples: nós somos amantes." Ficou todo mundo de boca aberta. O clima ficou mais pesado quando Sônia apareceu. Mas ele se levantou e, muito formal disse: "Muito prazer, encantado." Era piada. Os dois nem se conheciam até então.

José Lins do Rego era fanático por futebol. Foi diretor do Flamengo, do Rio, e chegou a chefiar a delegação brasileira no Campeonato Sul-Americano, em 1953.

Machado de Assis era miope, gago e sofria de epilepsia. Enquanto escrevia Memórias Póstumas de Brás Cubas, foi acometido por uma de suas piores crises intestinais, com complicações para sua frágil visão. Os médicos recomendaram três meses de descanso em Petrópolis. Sem poder ler nem redigir, ditou grande parte do romance para a esposa, Carolina.

Manuel Bandeira sempre se gabou de um encontro com Machado de Assis, aos dez anos, numa viagem de trem. Puxou conversa: "O senhor gosta de Camões?" Bandeira recitou uma oitava de Os Lusíadas que o mestre não lembrava. Na velhice, confessou: era mentira. Tinha inventado a história para impressionar os amigos.

O escritor Pedro Nava parafusava os móveis de sua casa a fim que ninguém o tirasse do lugar.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Metade de mim

Porque acredito na mudança do ser humano,
Na sua capacidade de se ver e evoluir.
Na sua tentativa de autenticidade sem inveja,
Mesmo que para isso venha a tona sua metade mais medíocre.
METADE (Osvaldo Montenegro)

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio.

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que o homem que eu amo seja pra sempre amado
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a uma mulher inundada de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Por que metade de mim é o que penso
Mas a outra metade é um vulcão
Que o medo da solidão se afaste
E que o convivio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
Mas a outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é a platéia
A outra metade é a canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

O livro

Recebi esse poema e não poderia deixar de postá-lo:

Livro Aberto
( Germano Gonçalves Arrudas )

Eu gosto de livro, dos livros.
Livros abertos, livros fechados,
e até os lacrados, intocáveis.
Gosto da capa, das capas.
Do formato, em qualquer estado.

Dos prefácios, das palavras fáceis.
Das orelhas e, lombadas.
Da capa dura, da brochura, espiral.
Livros de romance, contos e espiritual.

Poemas, crônica e policial.
Das primeiras paginas,
dos dados de catalogação, Copyright.
Eu gosto dos agradecimentos,
das homenagens e dedicatórias,
dos índices, apêndices, das paginas do miolo.

Do papel em que passo o olho,
dos escritores e escritoras,
dos poetas e das poesias.
Eu gosto do que lia, escrevia.
Eu gosto de livro, dos livros.

Da folha em branco.
Da escrivaninha, de um orador, do computador.
Da folha com linha nasce o mais ilustre, filho do homem.
És livre, tornando a realização, de toda sua existência.
O livro vem de dentro, não vem do ventre.
Vem do coração, vem da mente.
Deixe-o perto, deixe o livro aberto.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

A cena de leitura III (final)

IMPORTANTE:
Leitores incomuns, de Milton Hatoum
Disponível em : ENTRE LIVROS

“A marcha, escreve Piglia, supõe leveza, agilidade, rapidez. É preciso desprender-se por completo, estar leve e andar. Mas Guevara mantém um certo peso. Na Bolívia, já sem forças, carregava livros. Ao ser detido em Ñancahuazu, quando é capturado depois da odisséia que conhecemos, uma odisséia que supõe a necessidade de movimento incessante e de fuga ao cerco, a única coisa que ele conserva (porque perdeu tudo, não tem nem sapatos) é uma pasta de couro, que leva amarrada ao cinturão, sobre a ilharga direita, onde guarda seu diário de campanha e seus livros. Todos se desfazem daquilo que dificulta a marcha e a fuga, mas Guevara continua mantendo seus livros, que pesam e são o oposto da leveza exigida pela marcha.” (pág. 103)

A capa do livro (da autoria de Angelo Venosa) foi inspirada numa fotografia de Ernesto Guevara lendo no alto de uma árvore. É uma imagem notável do guerrilheiro – homem de ação – que faz uma pausa para ler. Armas e letras, dois temas medievais explorados no Dom Quixote, parecem reviver nessa imagem em que o leitor, significativa e simbolicamente, situa-se no alto. Longe de ser uma posição de quem se sente elevado, a altura, aqui, é uma posição precária, que denota perigo e instabilidade. (...)

Narrar para não morrer é a mensagem de Sherazade ao rei Shariar em cada conto do Livro das mil e uma noites. Ernesto Guevara lê para viver. Ou suportar a vida: fado de um homem que vivia perigosamente à beira da morte. Mas ler é também o destino de tantos outros seres que não se lançam à aventura utópica de transformar o mundo por meio da ação revolucionária. Esse leitor apaixonado forma o duplo do escritor. E ambos justificam a literatura.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

A cena de leitura II


Leitores Incomuns , de Milton Hatoum
Disponível em: ENTRE LIVROS

Um bom leitor reescreve o livro com a imaginação de um escritor. Alguns vão mais longe. Com os olhos no texto e um lápis na mão, eles fazem anotações nas margens das páginas, sublinham frases, cravam aqui e ali pontos de interrogação. Há os que elaboram fichas com resumos ou esquemas do enredo, árvores genealógicas, comentários sobre o tempo da narrativa, posição do narrador, personagens, idéias, metáforas, ambiente político, social etc. Esse leitor incansável seria o leitor ideal, mencionado por Umberto Eco no ensaio Seis passeios pelo bosque da ficção.
No Tempo redescoberto – último volume do Em busca do tempo perdido –, o narrador de Proust faz uma reflexão sobre esse tema. Um livro, diz o narrador proustiano, pode ser sábio demais, obscuro demais para um leitor ingênuo. A imagem que Proust evoca é a de uma lente embaçada entre o olhar e as palavras: um anteparo à leitura. Mas o inverso também acontece quando o leitor astucioso revela capacidade e talento para ler bem. De acordo com o autor francês, “cada leitor é, quando está lendo, o leitor de si próprio”. Ou seja, uma obra literária permite ao leitor discernir tudo aquilo que, sem a leitura dessa obra, ele não teria visto ou percebido em sua própria vida.
No quarto capítulo de seu belo ensaio O último leitor, o argentino Ricardo Piglia lembra a figura de um leitor incomum: o revolucionário e guerrilheiro Ernesto Guevara. O comandante Che sonhava ser escritor, mas o compromisso político-social o conduziu a outras veredas. No entanto, ele escreveu diários de viagem, textos sobre técnicas e estratégias de guerrilha, relatos inspirados diretamente em sua experiência revolucionária em Cuba, na África e na América do Sul. O que não falta em suas incansáveis viagens – inclusive a última, pouco antes de morrer – é o livro, a leitura.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

A cena de leitura I

Leitores incomuns, de Milton Hatoum.
Disponível em: ENTRE LIVROS

Há tanta diferença entre a “atitude” de quem lê e a de quem escreve? Um dos problemas cruciais do leitor e do escritor é a falta de tempo, decorrente da pressão do dia-a-dia.
Os escritores que vivem de sua pena não podem escolher uma hora do dia ou da noite para trabalhar. Mesmo os que tiveram ou têm a sorte de não depender do trabalho da escrita, revelam-se compulsivos, ávidos para narrar. O que deve ser escrito é inadiável. Deixar para escrever mais tarde, amanhã ou outro dia qualquer só atrapalha o andamento da narrativa. Adiar um trabalho pode ser um alívio para um burocrata, não para um escritor. Ainda assim, há momentos de pausa e reflexão, de pesquisa e anotações, e, às vezes, de interrupções forçadas, um verdadeiro castigo para quem escreve. E há também pausas para leitura: a urgência de escrever não é menor nem menos intensa do que a urgência de ler.
“Escrevo porque leio”, afirmam alguns escritores. Mas um leitor poderia dizer: não escrevo nada, mas é como se a leitura fosse um modo de escrever, de imaginar situações, diálogos e cenas que a memória registra no ato da leitura.
O pior leitor é o passivo, resignado, que aceita tudo e lê o livro como uma receita ou bula para o bem viver. Este é o não-leitor. Porque o texto de auto-ajuda é um compêndio de trivialidades, palavras que não questionam, não intrigam nem fazem refletir sobre o mundo e sobre nós mesmos.