segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Motivos para escrever

Toda pessoa que escreve já foi e vai ser questionada pelos motivos de escrever. E cada escritor tem lá suas explicações.
Segue então a lista de motivos do escritor George Orwell
1. Puro egoísmo.
O desejo de ser engenhoso, de ser comentado, de ser lembrado após a morte, de se desforrar de adultos que o desdenharam na infância e por aí afora. É uma falsidade fazer de conta que este não é um motivo, e um motivo forte. Escritores compartilham esta característica com cientistas, artistas, políticos, advogados, soldados, homens de negócios bem-sucedidos - em suma, toda a camada superior da humanidade. A grande massa de seres humanos não tem um egoísmo agudo. Mais ou menos depois dos trinta, abandonam a ambição individual - em muitos casos, de fato, quase abandonam inteiramente a noção de serem indivíduos - e vivem sobretudo para os outros, ou simplesmente se deixam sufocar pelo trabalho enfadonho. Mas também existe a minoria de pessoas talentosas e obstinadas decididas a viver a vida até o fim, e os escritores pertencem a essa classe. Devo dizer que escritores sérios são, de modo geral, mais vaidosos e egocêntricos do que jornalistas, embora menos interessados em dinheiro.

2. Entusiasmo estético.
A percepção da beleza no mundo externo ou, de outro lado, nas palavras e em seu arranjo correto. Prazer no impacto de um som sobre outro, na firmeza de uma boa prosa ou no ritmo de uma boa história. O desejo de compartilhar uma experiência é valioso e não se deve deixar escapar. O motivo estético é muito débil numa porção de escritores, mas mesmo um panfleteiro ou um escritor de livros didáticos terá palavras e frases prediletas que lhe agradam por razões não utilitárias; ou terá preferências por tipografia, largura de margens e assim por diante. Acima do nível de um guia ferroviário, nenhum livro está inteiramente isento de considerações estéticas.

3. Impulso histórico.
O desejo de ver as coisas como elas são, de encontrar fatos verídicos e guardá-los para o uso da posteridade.

4. Propósito político
A palavra "político" entendida aqui em seu sentido mais amplo. O desejo de lançar o mundo em determinada direção, de mudar as idéias das pessoas sobre o tipo de sociedade que deveriam se esforçar para alcançar. Também neste caso ninguém está verdadeiramente isento de tendências políticas. A opinião de que arte não deveria ter a ver com política é em si mesma uma atitude política.

7 comentários:

  1. Olá Beatriz!
    Já tinha passado por aqui! Muito interessante este teu cantinho!!

    É verdade que todos os escritores têm os seus motivos para escrever... todos eles válidos e respeitáveis!! Ainda bem que assim é para que possamos continuar a lê-los!

    Bjos

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  2. Apesar de não ser escritora , também tenho um motivo...
    E só porque me sinto bem e faz-me bem.
    Grande beijinho e boa semana.

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  3. George Orwell não é o autor do livro "O GRANDE IRMÃO"? Ele tem realmente uma posição ativista.
    Bem, espero nunca vir a ser questionada pelos motivos dos meus rabiscos. Escrevo desde os 9 anos. Cada palavra, cena, ou imagem que me fixa o olhar , me leva ao impulso da escrita. Não pretendo ser famosa, nem ganhar dinheiro. Atualmente temos a ferramenta do Blog. Antes, eu escrevia e guardava. Muitas vezes perdia ia tudo para o lixo...etc. Enfim escrevo porque me completa.

    Muito bom rever Orwell!
    Parabéns pela escolha!

    Beijos
    Mirse

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  4. Olá meninas,

    Tenho trazido pensamentos bem diversificados para podermos refletir e discutir mais sobre a literatura.
    Sim, esse George Orwell é o autor de 1984, livro que possui personagem "O Grande Irmão" ou Big Brother.

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  5. Ótimo esse texto, né? Eu me identifiquei muito e passei a gostar mais ainda de Orwell. Tenho o livro com esta e outras crônicas dele (são bastante descritivas). Se quiseres, já sabe...
    beijos

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  6. Olá! Tenho minha própria resposta a esta pegunta. Certamente não é a definitiva e sequer direta ou objetiva. Mas é minha. E compartilho com você.

    - Por que você escreve?

    Tinha quinze anos quando ouvi pela primeira vez aquela pergunta. Vinha dos lábios de uma paquera. Estávamos sentados na escadaria do colégio, primeiro ano do segundo grau. Ela segurava em uma das mãos o rascunho de uma de minhas primeiras poesias, talvez a pior delas. Confesso que fiquei sem jeito, nem tanto pela paquera, mas pelo teor de uma pergunta que sequer imaginava ser feita a alguém. Relutei em responder, mas o modo curioso com que olhava em minha direção não deixava alternativas.

    Beijamo-nos. Era inevitável. E ainda de olhos fechados, eu tentava enumerar os fatores que motivaram aquele momento. Pensei na poesia barata, em nossas conversas e ainda na origem da pergunta.

    - Não vai me dizer? – ela insistiu assim que nossos lábios descolaram. Com uma das mãos limpou o batom que se espalhara em minha boca. Como era madura! Infinitamente mais preparada que eu para aquele momento. Sorri, disfarcei os olhos furtivos e suspirei. Não havia resposta.

    - Não posso – fingi.

    - Por que? – ela estranhou, franzindo as sobrancelhas.

    - Arruinaria todo o mistério - sorrimos e nos beijamos novamente.

    Correram as areias do tempo e surgiram perguntas semelhantes. Vinham de bocas variadas: um vizinho curioso, um amigo confuso, uma namorada apaixonada, parentes desconfiados. Muitos questionaram, nenhum obteve uma resposta.

    Escrevi sobre isso certa vez: sobre a arte de escrever, esta mania esquisita, meio idiossincrática, meio inútil e talvez, sem sentido. Brinquei com as palavras, disse que o fazia por status de quem não possui status algum e porque desejava mudar a vida das pessoas, mesmo sabendo que sequer uma significante parcela de pessoas me leria, e que deste grupo, um número ainda menor me compreenderia. Não desisti por isso. Nunca escrevi por compreensão.

    Busquei ajuda em outros escritores, mas arrependi-me profundamente. Eram respostas inconclusivas e depoimentos apaixonados - alguns narcisistas. Deixei de lado a subjetividade e procurei o porquê social, o lado lógico da coisa. Descobri então que o escritor é, na verdade, inútil, sem lugar em uma sociedade prática: o médico cura, o engenheiro constrói e o professor ensina. Seria impossível explicar o escritor pela lógica, pois o que faz está em distante do racional. Ele é doutor das doenças e das curas inexplicáveis; é arquiteto e engenheiro de pontes imaginárias; professor das peripécias e do idioma usurpado, que não domina, mas abusa com maestria; atuante político, filósofo do acaso e militante do exílio.

    - Que faz então o escritor? – perguntou-me a mulher de cabelos vermelhos, dez anos depois, sentada à mesa do bar, segundos antes de levar o copo de bebida àquela boca também rubra, marcada por caracteres de uma linguagem tátil. Uma nova conquista, um momento de graça. Pensei: se escrever não serve pra nada, ao menos traz conquistas, algumas mulheres e uns poucos amigos.

    - O escritor conta histórias – respondi. Aproveitei a surpresa no rosto da mulher para apreciar a bebida que deixava uma marca redonda sobre a toalha da mesa. Achei graça.

    - É isso? – ela perguntou, decepcionada com minha afirmação.

    - O que você esperava?

    - De um escritor? – ela usou de retórica. – Esperava algo mais. No mínimo intrigante.

    - Escrevo para não ser espectador – respondi, com ar sério, de obviedade. Um tanto forçado, mas crível. - E para responder a perguntas com esta.

    Beijamo-nos. Inevitável.

    Texto "Escrevi minha história nas cores de sua boca", de minha autoria.

    Também disponível em http://www.recantodasletras.com.br/contoscotidianos/1061227


    Grande abraço,
    Anderson

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  7. Puxa Anderson,

    Interessante seu texto.
    Obrigada por compartilhar conosco nesse espaço.

    abraços
    Bea

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