segunda-feira, 30 de março de 2009

Mudanças


Mudanças e seus modos
Gabriel Perissé 28-Out-2008
Fonte: Correio da Cidadania

A vida tem ciclos. Idas e vindas, giros e voltas, corre-corres. Há entra-e-sai, perde-ganha, sobe-e-desce. Mudamos de pele, de roupas, de cidade, mudamos de idéias. Muito pouco é imutável. Sobre a base do amor incondicional e das convicções inegociáveis, devemos realizar alterações, inovações, evoluções, transformações.

Mudar o modo de amar, sem matar o amor. Mudar o modo de andar, sem cortar os pés. Mudar as cores, conservando os olhos. Mudar o horizonte, e manter as asas. Sair de onde estamos para continuar em frente. Descartar o descartável para assegurar o eterno. Enfraquecer as rotinas para fortalecer os vínculos que valem a pena.

Tenho medo de mudar, não vou negar. Mudar mexe, machuca, mói. Mudar dá trabalho. Quem muda não pode mais ficar mudo. Mudança faz dançar. Mudança cansa. Mudar arranca pedaços. Na mudança nem tudo pode ser levado. Mudar é despojar-se.

Quero mudar o modo de comer, sem acabar com a fome. Mudar o modo de falar, sem enrolar a língua. O modo de trabalhar, e não perder o pique. Mudar o modo de ler, encontrando o avesso dos livros dos quais não vou me separar.

Ser mutante sem esvaziar o ser. Mudando a casca, protejo o miolo. Mudando a cara, restauro o rosto. Mudando o entorno, salvo o estofo. Mudando os ares, recupero o fôlego. Mudando a letra, liberto o espírito.

Para mudar não é preciso muito. Nem pouco. Nem sempre os outros reparam. Todos notam. Atribuem notas. Avaliam. As mudanças mais profundas parecem tão inofensivas. Eu mudando, o mundo dos outros não muda. Mas, o meu, sim.

Mudarei de repente e lentamente. Mudarei num piscar de olhos depois de muito planejar. Mudarei por dentro e por fora, mudarei sem fazer rascunho. Mudarei agora. Pronto, mudei.

A mudança me fez ser a criança que jamais fui. Mudei de jogo. Mudei de lado. Mudei num pulo. Mudei e ninguém sabe para onde fui.

Gostei de mudar. A mudança me fez bem. Você não vê, leitor/leitora, mas a mudança já começou a influenciá-lo/a. A mudança começa devagar. Vai comendo pelas bordas. Vai roendo pelos cantos. Vai subindo pouco a pouco. Vai entrando pelas brechas.

Mudado, posso fazer o novo, de novo. Mudado, reafirmo que não morrerei para sempre. Mudado, posso voltar para casa. Meu nome é o mesmo, mas a assinatura mudou. Minha vida, idas e vindas.

Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor.
Website:
http://www.perisse.com.br/

2 comentários:

  1. Texto maravilhoso, Beatriz!
    Como é difícil mudar. Mudar a si mesmo, não é tanto. Mas quando implica na vida do parceiro e dos filhos, que não aceitam a mudança, complica. Mas o importante é mudar, renovar, e renascer para a vida!


    beijos, amiga

    Mirze

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  2. A vida é a própria mudança =) belo texto que merece ser lido com bastante atenção pois as mudanças acontecem todos os dias...

    Apesar das mudanças serem bastantes inconstantes de inicio, acabamos por crescer com elas fazendo-nos crescer como seres humanos ou por vezes, infeizmente, afundarnos em uma nova vida vazia...

    Mas somos nós quem temos que moldar essa mudança que acontee nas nossas vidas e essa é a chave...

    Beijo,
    Sofia Duarte

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