Leitores incomuns, de Milton Hatoum
Disponível em : ENTRE LIVROS
“A marcha, escreve Piglia, supõe leveza, agilidade, rapidez. É preciso desprender-se por completo, estar leve e andar. Mas Guevara mantém um certo peso. Na Bolívia, já sem forças, carregava livros. Ao ser detido em Ñancahuazu, quando é capturado depois da odisséia que conhecemos, uma odisséia que supõe a necessidade de movimento incessante e de fuga ao cerco, a única coisa que ele conserva (porque perdeu tudo, não tem nem sapatos) é uma pasta de couro, que leva amarrada ao cinturão, sobre a ilharga direita, onde guarda seu diário de campanha e seus livros. Todos se desfazem daquilo que dificulta a marcha e a fuga, mas Guevara continua mantendo seus livros, que pesam e são o oposto da leveza exigida pela marcha.” (pág. 103)
A capa do livro (da autoria de Angelo Venosa) foi inspirada numa fotografia de Ernesto Guevara lendo no alto de uma árvore. É uma imagem notável do guerrilheiro – homem de ação – que faz uma pausa para ler. Armas e letras, dois temas medievais explorados no Dom Quixote, parecem reviver nessa imagem em que o leitor, significativa e simbolicamente, situa-se no alto. Longe de ser uma posição de quem se sente elevado, a altura, aqui, é uma posição precária, que denota perigo e instabilidade. (...)
Narrar para não morrer é a mensagem de Sherazade ao rei Shariar em cada conto do Livro das mil e uma noites. Ernesto Guevara lê para viver. Ou suportar a vida: fado de um homem que vivia perigosamente à beira da morte. Mas ler é também o destino de tantos outros seres que não se lançam à aventura utópica de transformar o mundo por meio da ação revolucionária. Esse leitor apaixonado forma o duplo do escritor. E ambos justificam a literatura.
Oi, Beatriz,
ResponderExcluirObrigada pela carinhosa visita ao Dois Rios.
O seu blog é muito interessante e dá a parceber a importância da leirua para você.
Adorei esse post. Quando penso que já li tudo sobre Che Guevara, surpreendo-me com mais essa bela surpresa.
Um beijo
Inês
Ao ler isso lembrei de você:
ResponderExcluirLivro Aberto
Por Germano Gonçalves Arrudas -
Eu gosto de livro, dos livros.
Livros abertos, livros fechados,
e até os lacrados, intocáveis.
Gosto da capa, das capas.
Do formato, em qualquer estado.
Dos prefácios, das palavras fáceis.
Das orelhas e, lombadas.
Da capa dura, da brochura, espiral.
Livros de romance, contos e espiritual.
Poemas, crônica e policial.
Das primeiras paginas,
dos dados de catalogação, Copyright.
Eu gosto dos agradecimentos,
das homenagens e dedicatórias,
dos índices, apêndices, das paginas do miolo.
Do papel em que passo o olho,
dos escritores e escritoras,
dos poetas e das poesias.
Eu gosto do que lia, escrevia.
Eu gosto de livro, dos livros.
Da folha em branco.
Da escrivaninha, de um orador, do computador.
Da folha com linha nasce o mais ilustre, filho do homem.
És livre, tornando a realização, de toda sua existência.
O livro vem de dentro, não vem do ventre.
Vem do coração, vem da mente.
Deixe-o perto, deixe o livro aberto.
http://www.varaldaliteratura.ale.nom.br/
Olá
ResponderExcluirObrigada pela lembrança e pelo comentário. Ficaria satisfeita de saber quem lembrou de mim.
Grata